Debates
A crise nos fortalece
A primeira delas é o perigo das generalizações e como isso pode reverberar. Quando nos damos conta da irresponsabilidade, muitos já foram atingidos.
da redação | 11 de abril de 2017 - 03:29
Se é em momentos de crise que criamos oportunidades, que inovamos sendo criativos, podemos dizer que a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, nos deixou boas lições.
A primeira delas é o perigo das generalizações e como isso pode
reverberar. Quando nos damos conta da irresponsabilidade, muitos já foram
atingidos.
O que nos conduz à questão da comunicação, ponto importante
a ser ressaltado. Já foi destacado que a operação tinha como alvo a corrupção e
não a produção, mas quando isto foi esclarecido, as palavras já tinham se
espalhado como folhas ao vento e as restrições dos importadores já tinham
ocorrido. A velocidade com que se divulgam fatos e versões na era digital é absurda.
Separado o joio do trigo, começam a aparecer os pontos
positivos da história, porque é também na crise que nos tornamos mais fortes. O
episódio funcionou para o setor como uma simulação de incêndio, para sabermos se
diante de uma situação real que coloque em risco a sanidade da nossa produção,
estamos prontos para darmos uma solução, sem comprometer a saúde de um plantel
inteiro.
O Ministério da Agricultura foi ágil apresentando respostas,
esclarecendo os fatos e acalmando os ânimos da opinião pública e dos
importadores. Prova disto foi à rápida normalização do mercado.
É claro que nada disto teria sentido se não houve
consistência nos fundamentos apresentados. Nenhum discurso se sustenta se a
prática comprova o contrário. Se realmente a nossa carne não tivesse qualidade,
o próprio consumidor teria contra argumentado e não teria sido tão pronta a
reabertura de mercado.
E o que houve foi o inverso, o monitoramento de algumas
instituições, como o próprio Mapa mostrou que mesmo com todo o barulho, a
confiança do consumidor não foi abalada.
Mais uma lição. Podemos demonstrar que, apesar de casos como
os que originaram a Operação Carne Fraca, que são isolados e devem ser punidos
com o rigor da lei, o setor tem organização suficiente para administrar uma
iminente crise que possa vir a ocorrer. É isso o que é importante quando se
fala em sanidade. A rapidez de resposta aos problemas no momento imediato em
que ele é detectado.
Isto não nos isenta de melhorarmos o nosso serviço de
inspeção sanitária. É oportuno que se discuta o assunto. O governo federal
alterou o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem
Animal (Riispoa), que era de 1952, o que permitirá maior rigidez na punição aos
estabelecimentos industriais por suas ações.
No final de março foi inaugurado o Laboratório Multiusuário
de Biossegurança para a Pecuária (Biopec), instalado na Embrapa Gado de Corte,
em Campo Grande (MS). Outra medida que atestará a qualidade da carne da América
Latina.
Esse deve ser o nosso caminho em todas as cadeias produtivas
do agronegócio: pesquisa; inovação; segurança alimentar; e excelência no que
fazemos. A crise também nos mostra oportunidade.
A avicultura poderia ser tão ou mais afetada que a pecuária
de corte neste episódio, o que teria gerado um efeito em cascata, atingindo até
mesmo a produção de grãos num cenário mais negativo.
Contudo, o que vemos é um cenário de oportunidades. O mundo precisa de proteína animal. O Paraná é o maior produtor e exportador brasileiro de aves. Atualmente, o vírus da gripe aviária circula em mais de 30 países, um problema que até o momento não enfrentamos. De qualquer forma, temos preparo para lidar com a situação e manter o nosso plantel saudável para suprir a demanda do mercado externo. Quem disse que a carne é fraca?
Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR