Debates
Fachin e a corrupção generalizada
Há séculos que os “donos do poder” são as mesmas famílias que, historicamente, conseguiram conservar os seus rendimentos
Da Redação | 20 de abril de 2017 - 02:25
Por João Miranda
Todos os grandes partidos e os principais quadros políticos
estão na lista do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Isso
demonstra uma obviedade: o nosso sistema político funciona sob corrupção generalizada.
O esquema da Odebrecht pode ter três décadas, porém, as alianças e conchavos
entre as elites que formam a classe política e o setor privado é muito mais
remoto.
Há séculos que os “donos do poder” são as mesmas famílias
que, historicamente, conseguiram conservar os seus rendimentos através da sua
capacidade de influência do Estado para ordenar as leis tendo em vista a
preservação do seu patrimônio. Isso aconteceu com a Odebrecht via,
principalmente, beneficiamento em licitações. E, num degrau acima, ocorre com o
capital financeiro, como os bancos, que aumentarão milhares de vezes os seus
ativos através da Emenda Constitucional nº 55/2016, a qual congela o orçamento
federal para pagamento de juros e amortização da dívida pública.
Esse “capitalismo de famílias” é secular, entretanto, os
arranjos do atual sistema político foram tecidos em grande medida a partir de
meados dos anos 80. A sociedade civil, que, durante a ditadura civil-militar
estava afastada do debate político, no início do processo de redemocratização procurava
agir coletivamente e politizar as questões que permeiam a vida social. Esse
movimento reinventou o espaço político e, entre outras conquistas, resultou no
generoso apoio à diversidade ideológica, à abertura do caminho para a
multiplicação de partidos e de modelos de organização política e à formação de
coalizões.
Na época acreditava-se que isso resultaria na comunhão de
forças a partir de um norte definido coletivamente. Contudo, a partir dos anos
90 as coalizões, principalmente as partidário-parlamentares, resultam em duas
grandes frentes que fomam o sistema conhecido como “presidencialismo de
coalizão”.
Essas frentes, para serem melhor compreendidas, podem ser
divididas como cabeça e corpo. De um lado, o corpo do sistema político: um
grande agregado sem perfil definido formado por um conjunto de partidos
fisiológicos, para os quais a localização no espectro ideológico importa menos do
que as alianças baseadas na oferta de cargos no aparelho estatal, cessão de
tempo de televisão para campanhas eleitorais e o suborno puro e simples. Todos esses
partidos, que refletem e se apoiam no PMDB, estão dispostos a aderir a qualquer
governo, desde que recebam em troca essas e outras benesses. Do outro lado, a
cabeça formada por dois partidos, PT e PSDB, especializados em coordenar, a
partir de um projeto de governo, esse grande bloco de apoio parlamentar. Essa
cabeça é definida por meio de eleições presidenciais.
No Brasil pós-1988 ocorreu, então, uma reconfiguração no sistema político para se adaptar as novas mudanças. De em tempos em tempos, ocorre rearranjos para a manutenção do pacto oligárquico. Ou seja, transforma-se para, paradoxalmente, continuar o mesmo. A Operação Lava-Jato possuí inúmeros problemas, mas, errando e acertando, está tendo o papel didático de jogar luz no resultado dessas transformações sustentadas pela corrupção generalizada que criam uma cultura de baixo teor democrático no país. Cabe a nós possibilitar que ocorram novas transformações no sistema político, mas de modo que quebre o pacto oligárquico.