Editorial
Licença para matar?
É fundamental que a legislação proteja aqueles que protegem a sociedade. Afinal de contas, poucas profissões hoje oferecem tanto risco à vida quanto a de policial
Da Redação | 05 de fevereiro de 2019 - 02:09
Depois de um mês de reuniões e trabalho principalmente nos
bastidores, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, apresentou
hoje o pacote de leis que pretendem endurecer o cumprimento das penas e determinar
a prisão após condenação em segunda instância. Entre todas as questões
apresentadas na proposta, que será apresentada ao Congresso Nacional nos
próximos dias, talvez o ponto mais polêmico seja justamente aquele que trata da
legítima defesa.
Existem alegações de que este novo projeto, na verdade,
trata-se de uma “licença para matar”. Há o receio de que esta alteração anule
penas de policiais que matam em serviço, alegando que os agentes de segurança
possam matar pessoas para prevenir agressão ou evitar o risco de agressão
contra si ou reféns. Na prática, o projeto estabelece que juízes poderão
reduzir pela metade ou mesmo deixar de aplicar a pena para agentes de segurança
pública que agirem com “excesso” motivado por “medo, surpresa ou violenta
emoção”.
Essa foi uma promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro: dar ‘carta branca’ aos policiais para matarem em serviço. Em uma sociedade ideal, onde a Justiça funciona de forma praticamente perfeita e a corrupção é exceção, essa medida não causaria tanta preocupação. E é claro que quando fala-se de Brasil, esse mundo ideal está muito, muito longe da realidade e é nesse ponto que surgem as preocupações com os direitos individuais e o possível excesso das forças de segurança.
Por outro lado, é fundamental que a legislação proteja
aqueles que protegem a sociedade. Afinal de contas, poucas profissões hoje
oferecem tanto risco à vida quanto a de policial – principalmente em grandes cidades.
Não se trata de dar “licença para matar”. Trata-se de reconhecer a legitimidade
das ações policiais e entender que o policial é um agente treinado para agir
somente quando a própria vida está em risco.