Debates
O jogo de azar no Brasil
Administrador | 21 de setembro de 2016 - 03:48
Por Julio Gavinho
O jogo de azar já é legal no Brasil. Você por acaso acha que
seis bolinhas caindo na mão de uma agente da caixa econômica lhe dão chances
reais de uma vitória matemática? Ou ainda, baseada na sua habilidade? Ora, grow
up.
Todos os recursos gerados pelas inúmeras loterias estaduais
e federais engordam o caixa do governo e são, em sua maioria, gerados pelas
famílias de baixa renda, que buscam o afamado sonho de ganhar na Mega-Sena. São
as velhinhas e velhinhos que você acha que perderão suas economias nas "slot
machines", que sustentam com seus talões semanais a grana discretamente
administrada pela Caixa.
Não me consta, nem eu nunca ouvi falar, que estas pessoas
estão falidas ou trocando seus tostões de aposentadoria pelo sonho de
enriquecer, seja através do sistema público de jogos de azar ou o bingo da
bicharada. Também não me consta, nem nunca ouvi falar que os cassinos dos
cruzeiros, quase encalhando com o peso de tantos brasileiros, estão falindo as
famílias em seus passeios marítimos. Por favor não sejamos, apenas desta vez,
hipócritas. Há muita coisa em jogo.
O fato pouco discutido é que a lei em tramitação (e que
rogamos, deve ser aprovada em breve) e seu conteúdo obrigando as operações de
jogo em resorts integrados, criará um número imenso de novos empregos e um
círculo virtuoso de turismo nunca visto no Brasil. Tudo isso devido à mesas de
roleta? Óbvio que não. Las Vegas é o que é porque se reinventou nos últimos
anos, abraçando os segmentos de congressos e convenções, lazer familiar é
grande show, inclusive sendo lar de vários shows imperdíveis do Cirque de
Soleil.
Visitas a uma das maravilhas do mundo (o grande cânion)
revelam imensos centros de compras com desconto e todos, eu disse todos, os
grandes restaurantes do mundo. Agora imagine uma bela estrutura hoteleira, nas
mais belas praias ou nas mais vibrantes metrópoles do país, com uma cultura
única, restaurantes de ponta, serviço internacional, investimento novo e sim,
por que não dizer, uma mesa de roleta?
Lembre-se também dos empregos para projetar e construir
100.000 metros quadrados de complexo integrado de lazer, comprar televisores,
camas, mesa e cadeiras, fazer instalações e etc. Depois pense nos mais
800 empregados em cada resort, treinados e fazendo parte de uma nova geração de
brasileiros que não só operam um resort integrado em um lugar mágico, como
passarão a fazer parte de uma nova classe de consumo - seja no Ceará, na Bahia
ou em São Paulo.
Uma piada velha conta que um certo marido, ao descobrir que
sua amada esposa o traíra no sofá, vendeu o sofá na esperança que a traição
cessasse. A discussão sobre a segurança da circulação de fundos e a correta
arrecadação de impostos deve passar pela capacidade da Receita Federal de
escrutinar qualquer, digo qualquer atividade empresarial. Usar a lavagem de
dinheiro para argumentar contra a legalização de resorts integrados no Brasil,
é achar que sumir com a vítima pode impedir um crime. Impedir a lavagem de
dinheiro deve ser uma das razões de existir dos órgãos de fiscalização neste
novo Brasil que se avizinha, nos anos pós lava a jato. Impedir o
desenvolvimento do país e, para todos os efeitos, todas as oportunidades de
desenvolvimento que nos sejam oferecidas devido à nossa incapacidade de gerir a
fiscalização pública, deve ser visto como um erro grave de julgamento.
Tal qual o de vender aquele sofá.
Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos
de experiência, fundador da doispontozero Hotéis e criador da marca
ZiiHotel.