Debates
Ouro de tolo, voto de bobo
Da Redação | 06 de dezembro de 2017 - 02:03
Por Paulo César Régis de Souza
Os alquimistas da Idade Média prometiam transformar chumbo
em ouro.
Os alquimistas de hoje prometem transformar bitcoin, sem
lastro monetário, em moeda virtual ou bolha. Nosso ilustre presidente Michel
Temer faz o mesmo com nossos parlamentares.
Juntamente com nosso competente ministro da Fazenda, promete
melhorar a economia do país, acabar com a violência, melhorar a segurança e a
educação, salvar os doentes, proteger os mendigos, tudo isso se os deputados e
senadores aprovarem a sinistra reforma da Previdência Social.
Promete cargos, que não tem, mas vai criar. Promete pagar as
emendas para a construção de estradas, escolas, hospitais, creches, coretos,
colocação de sinaleiras, lombadas e pardais. Promete recursos para as falidas
Universidades Federais, sem dinheiro para pesquisa, inovação e desenvolvimento
científico e tecnológico. Promete acabar com as dívidas dos estados e
municípios, perdoando as do INSS, do FGTS, do Ibama, da Cofins e da CSLL. Promete
evitar o fechamento das santas casas e criar mais leitos em unidades púbicas de
saúde.
Prometeu tudo isso e nas duas vezes em que foi acusado de
corrupção e precisava de votos para se salvar de ser cassado e levado ao cárcere
- ele que lidera um Ministério recheado de corruptos de grosso calibre. Prometeu
e levou os bobos, deram seus votos a troco de migalhas, restos, verbinhas que
alimentam os pequenos roedores, cargos para alguns familiares, amigos,
potenciais, delatores.
Agora, na famigerada reforma da Previdência, Michel Temer,
assim como Raul Seixas, promete dar aos bobos um disco voador para uma linda e
segura sociedade alternativa, com uma metamorfose ambulante.
Tudo para reformar a Previdência e jogar 95 anos
de Previdência Social pública na lata do lixo, levar 65 milhões de segurados
contribuintes ao pântano de contribuir por 40 anos para ter direito ao teto do
Regime Geral de Previdência Social – RGPS, ou sair com menos de dois salários,
desestruturar as vidas de 28 milhões de segurados beneficiários, 18 milhões de
urbanos e 10 milhões de rurais - que não contribuíram, liquidar com a
esperança e o sonho de gerações de brasileiros, implantar o terror e a
incerteza na Previdência e arrastar à miséria ao infortúnio e a falência 70%
dos municípios que vivem às custas da Previdência.
Se querem reformar, se é preciso e inadiável reformar, façam
com quem entende: os servidores do INSS. Previdência não se aprende na escola,
mas ao longo dos anos na melhor escola da cultura previdenciária.
NO RGPS, se querem acabar com o déficit, reformem o rural
deficitário até a raiz, façam o agronegócio pagar sua parte e sua dívida com o
campo, acabem com as renúncias, as desonerações, os Refis, cobrem os
caloteiros, executem as dívidas administrativa e ativa, parem com os
favorecimentos a clubes de futebol, as pilantrópicas, MEI, Simples, segurados
especiais, santas casas, etc.
O rombo do INSS tem dono: a previdência rural. Abrir 2018
com R$ 150 bilhões de déficit. Isso eles não dizem.
Quanto ao rombo da União, Estados e Municípios, do
Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público, a reforma passa longe.
O rombo é causado pelos brasileiros mais iguais do que os outros e pelos
ministros, incluídos no rombo e excluídos da Previdência. Os bobos nem sabem do
que se trata. E aí está o problema identificado pelo Banco Mundial.
O problema da Previdência é de gestão, de governança, de
compliance. Michel Temer inaugurou uma Previdência sem cérebro e sem alma, mal
administrada, entregue na sua interinidade a pessoas sem o menor
comprometimento com o social, com a Previdência, com o RGPS, com o INSS. Gente
que só entende de orçamento fiscal e jogou os trilhões da Previdência para
sustentar o déficit público.
Sem Ministério, sem ministro, retalhado entre o céu e o
inferno, com os auditores na Fazenda, os procuradores na AGU, peritos guiados
por Esculápio, os demais servidores sem pai e sem mãe, filas virtuais e
presenciais nas unidades que têm servidores, pois em muitas delas não os há - 15
mil já poderiam ter saído, como já mostrou o TCU, mas não o fazem por amor a
uma instituição com 95 anos de serviços prestados a várias gerações de
brasileiros, seguramente cinco ou seis!
A Previdência está ferida de morte, ilhada, abandonada, humilhada. Lembrem-se senhores parlamentares, não deem a ele o voto de bobo, pois certamente receberão o ouro de tolo. Quem viver verá.
Paulo César Régis de Souza é vice-presidente Executivo
da Associação Nacional dos Servidores Públicos, da Previdência e a Seguridade
Social - Anasps.