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Diferenciação, autopoiesis e comunhão

Imagem ilustrativa da imagem Diferenciação, autopoiesis e comunhão

Por Mário Sérgio de Melo

O livro O tao da libertação (M. Hathaway e L. Boff, 2012) discute diferenciação, autopoiesis e comunhão, conceitos fundamentais hoje, quando no Brasil e no mundo há retrocesso de valores civilizatórios e democráticos. Confundimos estadistas, que se dedicam à justiça e inclusão social e à soberania frente a tirânicos poderes hegemônicos globais, com oportunistas, que se dedicam a satisfazer inconfessáveis ambições e atavismos pessoais, às vezes a serviço à tirania internacional ou à insânia pessoal. Confundimos esclarecimento com manipulação e ilusão. Confundimos valores civilizatórios como tolerância e solidariedade com posturas que desagregam a sociedade, como segregação e violência.

Segundo o livro, o cosmos já nos mostra os três conceitos: diferenciação é o big-bang, a energia concentrada num ponto expande-se e diferencia-se nos inúmeros mundos que conhecemos; autopoiesis é a evolução dos mundos, tal como a Terra, que evoluiu bilhões de anos até ter as condições para dar suporte à vida; comunhão é o colapso no big-crunch, quando todo o universo voltará a contrair-se. O cosmos também “respiraria” ciclos, como noite e dia, verão e inverno, glaciais e interglaciais, expiração e inspiração, os batimentos cardíacos...

Os conceitos também são aplicáveis à natureza humana, às pessoas e à espécie. Diferenciação seria a nossa individuação, quando passamos a ter personalidade própria e deixamos de ser massa de manobra. A rebeldia seria seu primeiro sinal, é bom que entendamos que um jovem rebelde mostra sinais de que está evoluindo para além da mesmice das massas amorfas, é bom que saibamos orientá-lo para avançar para os conceitos seguintes. A diferenciação, ou individuação, é essencial para que comecemos a refletir sobre as trocas entre nosso interior e o exterior. Passamos a ser mais críticos, passamos a pensar, passamos a discernir.

Autopoiesis ou autopoesia é a construção da poesia em si mesmo. Poesia no sentido de sensibilidade, reconhecimento e valorização do belo e do sublime, evolução da sabedoria e força interior, fortalecimento e  aperfeiçoamento do caráter. É quando construímos nossa identidade, nossa subjetividade, nos organizamos interiormente através de valores e condutas harmoniosas e edificantes.

Comunhão começa quando conseguimos sair de nós mesmos, é a empatia com os outros seres humanos, os outros seres, o planeta. A comunhão nos torna mais tolerantes, compreensivos, generosos e responsáveis, conosco mesmo, com a diversidade de seres humanos, com animais e plantas, as águas, os solos, as florestas, o ar que respiramos... Tão quimérico quanto imaginar o big-crunch da cosmogênese seria imaginar onde nos levará o clímax da comunhão. Talvez o congraçamento das almas numa única alma iluminada, como é a crença de algumas religiões orientais.

Deveríamos refletir sobre estes conceitos. Quanto já conseguimos nos diferenciar, isto é, quanto já deixamos de ser massa de manobra? Quem estaria hoje a nos tanger? Talvez a grande mídia, talvez as fake-news que incorporamos e replicamos sem discernimento? Talvez um consenso construído sabe-se lá por qual soma de agentes que têm o propósito de nos manipular?

E como anda a nossa autopoieisis, expressa na nossa educação, na cultura, no cultivo de valores civilizatórios e generosos que nos ampliem e melhorem nossa visão de mundo e humanidade?

Parece que estes três conceitos estão contidos nas mensagens dos grandes missionários das religiões do mundo. Cristo teria dito “amar ao próximo como a ti mesmo, e a Deus sobre todas as coisas”. É possível que não estejamos sabendo amar nem a nós mesmos, quanto mais ao próximo. Quanto a Deus, visto que mesmo os teólogos divergem sobre quem seja, podemos admitir que ele esteja manifesto na Natureza, no Universo. Está manifesto também nesta maravilhosa singularidade que é o planeta Terra. Como temos cuidado dela?

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG

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