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E agora, Aliel Machado tinha razão?
Da Redação | 29 de maio de 2018 - 01:12
Por Pedro Henrique Alves Ribeiro
Passado dois anos do impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff (PT), um dos personagens centrais daquele episódio parece enfim
encontrar compreensão por parte da sociedade. Em seu primeiro mandato na Câmara
Federal, o deputado mais jovem do Paraná, Aliel Machado (PSB), surpreendeu e
contrariou muita gente ao pedir Nova Eleição e votar contra o processo de
impedimento da presidente.
Membro titular da Comissão Especial que avaliou o crime de
“pedalada fiscal”, Aliel argumentou que, mesmo não concordando com algumas
medidas do governo, não podia deixar sua digital num processo comandado por
Eduardo Cunha – ex-presidente da Câmara, e pelo vice-presidente Michel Temer
(ambos do MDB). A situação do país, segundo argumentou à época, iria se agravar
com a entrada de um projeto que não havia passado pelas urnas e que, de acordo
com ele, tinha como um dos objetivos acabar com a Lava-Jato, além de promover a
retirada de direitos através da famigerada "Ponte para o Futuro",
documento apresentado em outubro de 2015. Para isso, Temer se uniu ao grupo de
Aécio Neves (PSDB), que teve o programa de governo semelhante derrotado nas
eleições do ano anterior.
Ao votar contra o impeachment e cobrar nova eleição, Aliel
foi massacrado na sua base eleitoral. Além de ter a imagem linchada em praça
pública (um outdoor com a foto do deputado foi alvo de ovadas na principal rua
da cidade de Ponta Grossa), Aliel comprometeu o próprio desempenho na eleição
de 2016, quando disputou o cargo para prefeito da cidade.
Dois anos depois aquele período de tensão e inquietude
social, o discurso de Aliel faz sentido. Eduardo Cunha foi cassado da
presidência da Câmara - depois de manobrar votações e contribuir com as
maldades do governo - tendo como destino a cadeia. O próprio Aliel ficou
conhecido nacionalmente em um vídeo em que, com dedo em riste no dia da
cassação do parlamentar, dizia na cara de Cunha que “lugar de ladrão era na
cadeia”. Pouco depois, Eduardo Cunha de fato foi preso por envolvimento em um
esquema de corrupção sem precedentes.
Já Michel Temer se manteve no poder, à duras penas,
negociando cargos e emendas parlamentares por apoio contra as denúncias que o
atingiam – inclusive com gravações comprometedoras. Vários integrantes do seu
Governo, principalmente os mais próximos, foram atingidos por graves denúncias
de corrupção. Quem não se lembra da mala de dinheiro do assessor especial da
presidência Rocha Loures ou das malas com R$ 52 milhões no apartamento
atribuído a Geddel Vieira Lima? Ambos eram da cúpula do MDB de Temer. Agora, em
maio de 2018, o presidente é causador de mais uma crise em nível nacional: a
greve dos caminhoneiros e transportadores parou o Brasil e fez com que o
desabastecimento, aquele fenômeno dos anos 1980, voltasse a ser realidade.
A impressão que fica é de que Aliel avisou, mas pouca gente
quis escutar. Naquele momento histórico muito delicado, o deputado alertava
que, mesmo diante da impopularidade e dos erros da presidente, o governo que a
sucederia seria ainda pior, impondo uma pauta que não havia passado pelo aval
do voto - portanto dificilmente encontraria legitimidade - e que defendia
interesses bastante específicos, boa parte deles contrários aos anseios da
população.
E o resultado não demorou a aparecer. O primeiro deles foi a
proposta que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos, conhecida como
PEC do Teto de Gastos, mas que na verdade é um congelamento nos investimentos
do Governo em áreas essenciais – levantamentos mostram que o país pode amargar
cerca de 20 mil mortes a mais de crianças em situação de risco até 2030. E isso
era só o começo.
Logo Temer aprovou, com a ajuda de deputados aliados, a
proposta de terceirização irrestrita e, em seguida, a Reforma Trabalhista. O
governo vendeu a esperança (equivocada) de que as medidas criariam empregos,
mas o que vimos foi justamente o contrário: o crescimento do subemprego,
retirada de direitos conquistados duramente pelos trabalhadores e a
precarização da relação entre patrão e empregado, sem qualquer crescimento
econômico.
O pior golpe contra a população chegou a ser ensaiado, mas
não foi executado: a reforma da Previdência Social. O presidente apresentou o
projeto que reformava o sistema previdenciário, aprofundando as desigualdades e
punindo o trabalhador braçal, ao mesmo tempo que mantinha privilégios das
Forças Armadas e do Judiciário, por exemplo. Mais uma vez Aliel foi
frontalmente contra. No entanto, alvo de graves denúncias, Temer acabou sem
condições de garantir a aprovação da medida. Como se não bastasse, em meio a
isso tudo o Governo ainda tentou promover a volta do trabalho escravo e avançou
sobre a Amazônia, encontrando forte resistência da sociedade.
Dessa forma, parte do caos social vivenciado agora e que
coloca nossa república em xeque já havia sido "previsto" por Aliel há
dois anos. Ao pedir nova eleição o deputado, com a coragem dos seus 27 anos,
não defendia interesses imediatos, mas sim o aval das urnas para decidir qual
projeto de país seria desenvolvido. Por mais que não tenha sido compreendido
naquele momento, o retrocesso que vivemos agora mostra que Aliel tinha razão.
Pedro Henrique Alves Ribeiro - Advogado.