Debates
É preciso crer e pensar!
Da Redação | 24 de julho de 2020 - 01:20
Por José Expedito da Silva
Minha fé é extremamente racional e pouco sentimental... Já
minha razão, por livre e consciente escolha, sempre procura ser iluminada e
regida pela fé! Posso afirmar que, pelo menos na minha vida, fé e razão
convivem muito bem e até se completam, num casamento perfeito de mente e
coração, com direito a crises de relacionamento, superadas pelo amor.
Esse tema me fascina desde 1979, quando conclui o “Curso de
Iniciação Teológica” pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras
de Lorena-SP, sob a direção do nosso querido “padre Guedes” (Pe. Vicente de
Paulo Moretti Guedes). Àquela época, vivíamos o auge dos movimentos de
conversão, renovação espiritual e engajamento nas pastorais da Igreja.
Lembro-me de que muitos dos que iniciaram o curso – com duração
de três anos –, acabaram desistindo ao longo da caminhada por causa dessa
dicotomia: Fé e Razão. Para mim, ao contrário, esse conflito medieval era
estímulo a seguir em frente, aprofundando os estudos, a partir do pensamento de
Tomás de Aquino, que desenvolvia suas teses em bases racionais. Segundo ele, o
papel da razão é demonstrar e organizar os mistérios revelados pela fé.
Entre os cinco membros da Comunidade de Jovens de
Guaratinguetá que iniciaram o curso, tive a graça de concluir a formação, juntamente
com os adultos, cursilhistas e equipistas, daquela turma. Penso que minha
perseverança foi fruto da compreensão de que uma boa relação com a ciência, sem
reduzir nossa vida cristã a preceitos puramente racionais, nos conduz a uma fé
amadurecida e bem fundamentada no conhecimento teológico.
Portanto, podemos afirmar que não há incompatibilidade entre
fé e razão ou entre o estudo da Bíblia e das teorias científicas. E essa
experiência só enriquece nossa espiritualidade. O segredo dessa questão que intriga
a tantas pessoas está, essencialmente, na interação entre a fé e o
conhecimento.
Dois pensadores – Tomás de Aquino (1225-1274) e Anselmo de
Cantuária (1033-1109) –, nos ajudam a compreender a diferença entre fé e razão.
Para Tomás, é pela razão que o ser humano pode chegar ao conhecimento de Deus,
embora defenda também a necessidade da fé. Já Anselmo é lembrado pela máxima:
"fé em busca de entendimento", que define seu pensamento em seus
escritos.
Nessa temática, não podemos deixar de citar nosso contemporâneo
São João Paulo II, que em sua Carta Encíclica Fides et Ratio, no vigésimo ano
de seu pontificado (1998), proclama: “A fé e a razão constituem como que duas
asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.”
Como fundamentação bíblica, destaco duas frases
complementares de Paulo e Pedro: “Assim, a fé nasce da pregação e a pregação se
realiza mediante a palavra de Cristo” (Rm 10,17). “Mas adorai o Cristo Senhor
em vossos corações, prontos sempre para responder a quem vos perguntar a razão
da esperança que vos anima” (1Pd 3,15).
Para mim, e talvez para você também, permanece uma
instigante indagação: É o conhecimento que leva à fé, ou é a partir da fé que
se busca o entendimento? Fico com a convicção de que é preciso crer e pensar...
Simples assim!
*José Expedito da Silva é jornalista e apresentador do
Jornal Café da Manhã, pela Rádio Canção Nova.