Debates
Bom exemplo começa dentro de casa
Da Redação | 04 de setembro de 2021 - 01:31
Por Ágide Meneguette
O Brasil, principalmente as regiões Sul e Sudeste, passa por
uma crise hídrica sem precedente. Chegamos a esse ponto, literalmente
desesperador, por fatores climáticos, ou seja, chuva bem abaixo da média como
tem ocorrido nos dois últimos anos. Mas de forma alguma podemos colocar a
“culpa” apenas em São Pedro. Existe um problema estrutural, em razão de a
matriz energética brasileira ter como base a geração hidrelétrica.
O Paraná não foge ao modelo. Os reservatórios das
hidrelétricas e os utilizados para o abastecimento da população estão no
limite. Os quatro principais encerraram julho com nível médio de 50,48% da
capacidade total, o menor desde fevereiro.
Por mais que volte a chover e a atual estiagem passe,
provavelmente, o volume de água nos reservatórios, principalmente os das
hidrelétricas, talvez nunca atinja o necessário para garantir a produção de
energia para atender à demanda. Isso porque a matriz energética está
desbalanceada.
Esse problema precisa ser enfrentado com rapidez. Não
existem soluções no curto prazo, mas a crise pode ser minimizada ao adotarmos
políticas para melhorar a matriz de geração de energia. Parte da solução e a
mais rápida é a energia solar, com painéis fotovoltaicos, de preço razoável e
implantação em pouco tempo.
Inclusive, há anos, o Sistema FAEP/ SENAR-PR tem incentivado
os produtores rurais a migrarem para essa energia alternativa. Afinal, os
ganhos são inúmeros: fim das altas contas de energia elétrica, garantia de
energia de forma constante dentro da porteira, preservação do meio ambiente e
independência energética. E a prova de que acreditamos nesta fonte de energia é
que fomos além. No nosso Centro de Treinamento Agropecuário em Assis
Chateaubriand, na região Oeste, instalamos uma usina fotovoltaica. Os 308
painéis solares têm 135 kWp de potência, que vão garantir economia anual de R$
113 mil e redução de 20 toneladas de emissão de CO2.
A energia solar me parece lógica, para evitar que a produção
rural, especialmente a avicultura, suinocultura, criação de peixes e produção
de leite, seja prejudicada, não apenas pela falta de energia, mas
principalmente pelo alto preço da conta de luz. Ainda mais com o término dos
incentivos federais, em dezembro de 2022, e, consequentemente, com a extinção
da Tarifa Rural Noturna, no âmbito estadual, que vai deixar a energia elétrica
ainda mais cara.
Considerando os números do setor, os produtores rurais estão
trilhando um caminho sem volta para as energias alternativas. Atualmente, o
setor rural é responsável por 13% da energia solar instalada no país, de acordo
com dados de 2020 da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica
(Absolar). Tenho certeza de que esse índice vai aumentar bastante, em rápida
aceleração, nos próximos anos. Afinal, os agricultores e pecuaristas serão empurrados
para as energias alternativas para compensar a falta de volume de água em
nossos reservatórios de hidrelétricas.
Claro, não podemos esquecer de outros tipos de energias,
como eólica, de biomassa e a partir do biogás. Esses também estão ganhando espaço
dentro das porteiras.
Independentemente do tipo de energia é preciso buscar alternativas à tradicional matriz. Só assim o Brasil poderá ajustar a sua matriz às necessidades futuras. No caso do meio rural, tudo que pudermos fazer para minorar esta crise é muito importante. Principalmente se tiver impactos positivos no bolso do produtor rural e na preservação da natureza.
Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR