Debates
A imprensa dos Campos Gerais na virada do século (1890-1910)
Da Redação | 10 de setembro de 2021 - 03:05
Rafael Schoenherr*
João Paulo Leandro de Almeida **
Em comemoração aos 198 anos de Ponta Grossa, o repositório
digital Memórias Digitais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
disponibiliza de forma gratuita ao leitor, na semana de aniversário do
município, acesso a mais um capítulo importante da história da imprensa na
região dos Campos Gerais. Trata-se de conjunto de jornais, inédito na web,
produzidos em Castro e Ponta Grossa nos últimos anos do século XIX e na
primeira década do século XX.
A documentação online resulta de parceria da Casa da Cultura
de Castro e do Museu Campos Gerais (MCG), com finalidade de digitalização de
acervo de periódicos de municípios da região. Essa é a primeira publicação de
uma série, que envolve, ao todo, em torno de 70 títulos. O público tem acesso,
a partir de agora, a edições de A Campanha (1895 e 1986), A Aurora do Evangelho
(1899), A Caridade (1900), O Rebate (1905), O Reclame (1908) e O Escalpello
(1908).
Este último periódico ponta-grossense reuniu em sua equipe
redatores como Hugo Reis (posteriormente redator e chefe de redação do Diário
dos Campos), o professor Becker e Silva, além de Antônio Gomes, José Madureira
Branco e Virgolino Brazil. O texto da edição inaugural estabelece polêmica com
o jornal O Progresso, bissemanal que circulou de 1907 a 1912 e depois se
transforma em Diário dos Campos, com periodicidade diária - ambos parcialmente
disponíveis no Memórias Digitais (http://memoriasdigitais.museu.uepg.br/).
Pode-se dizer que tais impressos regionais da virada do
século representam esforços jornalísticos anteriores ao estabelecimento do
jornal diário como modelo principal de regularidade, o que sinaliza outras
condições tecnológicas de impressão, de coleta e produção da informação, além
de viabilização econômica e demanda leitora, portanto. Mercado que só iria se
firmar na década de 1950, com a entrada em cena do Jornal da Manhã, na Princesa
dos Campos. Tem-se acesso, agora, com poucos cliques na tela do navegador, ao
contexto formulador do que seria a imprensa diária na região, com destaque para
as cidades de Castro e de Ponta Grossa (como será possível ver nas próximas
publicações da série).
Outra característica a se destacar sobre o acervo que agora
ganha versão online e que também está presente na coleção inaugural é a
variedade de perfil das publicações, indo do jornalismo mais comercial aos
periódicos religiosos, comunitários, estudantis, culturais, de comunidades
étnicas e agrícolas, entre outros. Apenas uma pequena parcela dos jornais já
foi reconhecida em inventários anteriores de pesquisa, tal como o conhecido
texto de Valfrido Pilotto (http://memoriasdigitais.museu.uepg.br/items/show/2478).
O trabalho de socialização do conhecimento sobre uma das
marcas culturais históricas da cidade de Ponta Grossa e de municípios vizinhos,
a imprensa, foi possível por meio de ação cooperada da UEPG, Casa da Cultura de
Castro, Núcleo de Digitalização do MCG e Pró-Reitoria de Pesquisa e de
Pós-Graduação (Propesp), através do programa Pibic Jr com apoio do CNPq. O
estudante de ensino médio João Francisco Prado, do Colégio Estadual 31 de
março, realizou primeira catalogação do acervo que agora passa a ficar
acessível de forma gratuita na web ao público e pesquisadores. Trabalham na
digitalização, ainda, a estagiária em História no MCG, Gabriele Lima Pedroso e
o hoje licenciado em História, Ricardo Enguel Gonçalves.
* diretor de acervo do Museu Campos Gerais, professor do
Departamento de Jornalismo da UEPG.
** chefe do Núcleo de Digitalização do Museu Campos Gerais,
doutorando em Geografia pela UEPG (bolsista Capes).