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O debate político e a necessidade da retomada da industrialização no Brasil

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Por Rodolfo Coelho Prates

Presenciamos um fim de ano bastante conturbado, com várias manifestações partidárias das mais diversas agremiações políticas, incluindo convenções, prévias, desfiliações e filiações... Uma verdadeira dança das cadeiras. São os partidos se mobilizando para o próximo pleito eleitoral, que ocorrerá em outubro. É o início das posições que definirão os próximos mandatos, tanto no Governo Federal quanto nos estaduais. Sem dúvida, todo o foco está direcionado à corrida presidencial. Independentemente dos nomes que disputarão a presidência, alguns dos potenciais candidatos já esboçam um discurso com as propostas de governo, incluindo a área econômica, que é justamente a mais sensível.  

É importante estar atento ao debate econômico por três razões primordiais. A primeira é que o atual governo e o seu ministro da Economia, Paulo Guedes, não serão capazes de adotar qualquer medida relevante que tenha efeito prático na área, pois se não o fizeram em três anos de governo, nada farão nesse último. Serão, portanto, quatro anos de completa inépcia.  A segunda se deve às diretrizes que nortearão as medidas da economia no próximo governo, pois são elas que ditarão o funcionamento institucional que poderá colocar o país em uma rota de desenvolvimento ou que agravará ainda mais as condições sociais aqui instaladas. E a terceira decorre do fato de que o Brasil, nessas últimas décadas, vem se mostrando, no campo econômico, mais sensível aos problemas e mais refratário às benesses. 

Dos esboços que foram apresentados até o momento por alguns potenciais candidatos, nenhum deles se mostra realmente aderente a um problema econômico bastante agudo enfrentado pelo Brasil. É fato que a questão conjuntural deflagrada pela pandemia colocou um obstáculo a mais à gestão econômica para todas as nações, mas no Brasil tudo foi agravado pela inanição e perturbação do próprio governo. E isso se reverte num desafio ainda maior para os futuros governantes. 

As abordagens dos potenciais candidatos tratam de temas genéricos sobre como o governo deveria gerir seus recursos, com destaque a uma questão bastante sensível no momento: o teto de gastos. Ainda, citam o problema inflacionário e o crescimento econômico. A questão da desigualdade é mencionada, mas apenas como um grande tema. 

Sem sombra de dúvida, são assuntos importantes que devem estar na pauta de qualquer governo, mas nenhum deles abordou como fomentar o processo de retomada do crescimento industrial. 

Desde a adoção do Plano Real, que teve o êxito de tirar o Brasil do caminho da hiperinflação, o país vem progressivamente perdendo indústrias. Para uma nação em desenvolvimento e uma das mais desiguais do mundo, perder a musculatura produtiva é uma das razões fundamentais para a imensa tragédia a que estamos assistindo passivamente. As consequências têm sido o crescimento de atividades rentistas e o retorno de uma economia agroexportadora intensiva em recursos naturais. Estamos em pleno século XXI, mas vivendo nas mesmas condições estruturais do século XIX, só que agora a população brasileira é superior a 210 milhões, enquanto na virada do século XIX para o século passado era de menos de 20 milhões. 

Não basta apenas o sonhado crescimento econômico; é necessário ter qualidade nesse crescimento, com geração de empregos qualificados, desenvolvimento de inovações tecnológicas, construção de cadeias produtivas mais complexas, melhor aproveitamento dos recursos naturais e minimização da dependência tecnológica externa, por exemplo. Isso só é alcançado por meio das atividades da indústria de transformação. 

É notório que a indústria hoje, na configuração 4.0, perdeu a capacidade de geração de emprego como teve há algumas décadas, mas a estrutura produtiva brasileira é muito heterogênea, tendo espaço ainda para atividades menos intensivas em automação. A produção industrial sempre existirá; basta reunir as condições favoráveis para que ela floresça novamente no Brasil. Para isso, entretanto, há a necessidade de se ter uma política nacional de desenvolvimento industrial, que foi completamente esquecida nos últimos anos. 

Nesse momento de definição das candidaturas – e dada a trajetória econômica que o país vem passando –, é necessário e fundamental aprofundar o debate sobre a retomada da industrialização no Brasil. Deixar esse tema de lado ou minimizar sua importância é colocar o país em uma condição ainda maior de fragilidade e dependência. 

* Rodolfo Coelho Prates é doutor em Economia e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 

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