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Maria vai com as outras

Imagem ilustrativa da imagem Maria vai com as outras

Por Mário Sérgio de Melo

Maria vai com as outras é uma expressão de meu tempo de criança, usada para as pessoas sem vontade própria, frouxas de caráter, que sempre tinham que copiar ou o padrão pré-estabelecido pela maioria ou a marca imposta por uma gangue. Há muito tempo não vejo essa expressão. Hoje ela certamente seria reprovada pelo politicamente correto. Embora o mundo ainda seja machista e misógino, já aprendemos a reconhecer que, mesmo amorosas e pacíficas, as mulheres ─ as marias ─ têm muito mais firmeza de caráter que os homens. Não consigo atinar com uma expressão atual que substitua a velha maria vai com as outras. Talvez uma folha seca ao vento? Não uma rês tangida no meio de um rebanho comportado. Esse é o gado!  Palavra que tem sido usada para uma turba de indivíduos massificados. Não serve para aquele sujeito que chamava a atenção por ser a maria vai com as outras num bando variegado.

Talvez a diferença seja justamente esta. Nos últimos 60 anos aperfeiçoou-se muito a capacidade de sequestrar a vontade própria e a conduta das pessoas. Se antes as maria vai com as outras eram aquelas esporádicas pessoas que tinham por natureza baixa autoconfiança e a tendência de seguir vontades alheias, hoje rebanhos imensos de pessoas são manipulados para seguir vontades ditadas por sofisticadas tecnologias de propaganda, informação e desinformação. Mesmo que nos consideremos sujeitos com vontade própria, não é fácil resistir aos impulsos que nos igualam aos cães de Pavlov, que reagem com reflexos condicionados a estímulos cientificamente planejados.

Para quantas finalidades temos sido manipulados! Exemplos: a obediência à moda e ao status, que faz descartar vestuário, veículos, eletrônicos, utilidades, etc. ainda em bom estado, para não sermos taxados de antiquados e fracassados; a crença que a felicidade é comprar e possuir, que nos faz escravos de um consumismo compulsivo e nos aliena de valores como autenticidade, parcimônia e solidariedade; a submissão a tirânicos sistemas econômicos que fazem com que acreditemos que a artimanha e o dinheiro dos patrões tenham mais valor que o trabalho; a crença em mentirosas ideologias políticas que nos dizem que o sonho de justiça social ou é uma utopia ou é a máscara que encobre regimes totalitários e cruéis; a glorificação de nações guerreiras que almejam o poder hegemônico mundial a qualquer custo, como se elas fossem os berços da audácia, da liberdade, da oportunidade e dos direitos humanos; a fé em igrejas que endeusam o dinheiro e a prosperidade, esquecendo valores sagrados.

Qual expressão deve substituir o antiquado maria vai com as outras para designar a manipulação coletiva que tem transformado grande parte da população num grande rebanho mundial? Sozinhas, as palavras alienação, ilusão e logro parecem não dar conta da tarefa. Talvez robotização? Pois, tal como os robôs, deixamos de ter vontade própria. Somos condicionados para reagir conforme a programação a que fomos submetidos.

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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