Paulo Coelho
Duas histórias de Confúcio
Duas histórias de Confúcio
Da Redação | 30 de março de 2018 - 00:07
Como nivelar o mundo
Confúcio viajava com seus discípulos quando soube que, numa aldeia, vivia um menino muito inteligente. Confúcio foi até lá conversar com ele e, brincando, perguntou:
- Que tal se você me ajudasse a acabar com as desigualdades?
- Por que acabar com as desigualdades? – disse o menino. – Se achatarmos as montanhas, os pássaros não terão mais abrigo. Se acabarmos com a profundidade dos rios e dos mares, todos os peixes morrerão. Se o chefe da aldeia tiver a mesma autoridade que o louco, ninguém se entenderá direito. O mundo é muito vasto, deixá-lo com suas diferenças.
Os discípulos saíram dali impressionados com a sabedoria do menino. Quando já se encaminhavam para outra cidade, um deles comentou que todas as crianças deviam ser assim.
- Conheci muitas crianças que, ao invés de estar brincando e fazendo coisas de sua idade, procuravam entender o mundo – disse Confúcio.
– E nenhuma destas crianças precoces conseguiu fazer algo importante mais tarde, porque jamais experimentaram a inocência e a sadia irresponsabilidade da infância.
A importância de saber os nomes
Zilu perguntou a Confúcio:
- Se o rei Wen o chamasse para governar o país, qual seria a primeira providência?
- Aprender os nomes de meus assessores.
- Que bobagem! Isto é a grande preocupação de um primeiro-ministro?
- Um homem nunca pode receber ajuda do que não conhece – respondeu Confúcio.
- Se ele não entender a Natureza, não compreenderá Deus. Da mesma maneira, se não sabe quem está do seu lado, não terá amigos. Sem amigos, não pode estabelecer um plano. “Sem um plano, não consegue dirigir ninguém”. Sem direção, o país mergulha no escuro, e nem os dançarinos sabem decidir com que pé devem dar o próximo passo.
"Então, uma providência aparentemente banal – saber o nome de quem vai estar do seu lado – pode fazer uma diferença gigantesca. O mal do nosso tempo é que todo mundo quer consertar tudo de uma vez só, e ninguém se lembra de que precisa de muita gente para fazer isso".
A cidade e o exército
Conta a lenda que, indo em direção a Poitiers com seu exército, Joana D’Arc encontrou – no meio da estrada – um menino brincando com terra e galhos secos.
- O que você está fazendo? – perguntou Joana D’Arc.
- Não vê? – respondeu o menino. – Isto é uma cidade.
- Ótimo - disse ela. – Agora, por favor, saia do meio da estrada, que eu preciso passar com meus homens.
O menino levantou-se, irritado, e colocou-se diante dela.
- Uma cidade não se move. Um exército pode destruí-la, mas ela não sai do lugar.
Sorrindo com a determinação do garoto, Joana D’Arc ordenou que seu exército saísse da estrada e contornasse a “construção”.