Debates
O Brasil se descobriu
Da Redação | 07 de dezembro de 2017 - 02:47
Por Ágide Meneguette
O Brasil tem o 5º maior território e a 5ª maior população do
planeta. Ainda assim, o país precisou se afundar na mais grave crise econômica
e moral de sua história para descobrir o óbvio: somos uma potência do
agronegócio internacional. Há décadas, recordes constantes em produção,
produtividade e exportações agropecuárias fazem parte da nossa rotina de
produtores rurais. Levantamentos desvendam a cada dia a nossa grandeza, que até
pouco tempo era desconhecida para boa parte da população.
Hoje, a imprensa e os brasileiros passaram a se interessar
pelo setor, que se manteve sólido mesmo nos momentos mais críticos. Graças a
essa força, fazemos hoje parte de um marco histórico. Todos os dias surgem
novos veículos de imprensa especializados e analistas setoriais que nos dão
visibilidade. Acompanhamos matérias sobre tecnologia, geração de empregos,
pesquisa, exportação e assuntos que até então, aos olhos de muitos, pareciam
nada ter a ver com o homem do campo.
Está clara a noção de que para que se tenha comida a um
preço acessível, temos uma série de engrenagens que precisam funcionar em
harmonia. Também é evidente que o setor dependerá cada vez mais do uso de
tecnologia e de liderança, tanto na iniciativa privada quanto por parte do
poder público. Sim, nós dependemos diretamente de decisões políticas para
seguirmos viáveis e competitivos.
Alguns exemplos estão em instrumentos jurídicos recentes,
como: Lei da Integração, Lei da Terceirização, Reforma da Legislação
Trabalhista e Ações Diretas de Inconstitucionalidade, ajuizadas no Supremo
Tribunal Federal (STF), que questionam dispositivos do novo Código Florestal
brasileiro (Lei nº 12.651/12). Todas são normas que afetam diretamente o
cotidiano do produtor rural, que sozinho não tem a força política para
questionar, debater ou argumentar.
Essas mudanças constantes, aliadas à nossa maior
visibilidade, exigem respostas rápidas e contundentes. E isso se consegue com
entidades com força para defender os interesses de quem produz. A atividade é
complexa e nem sempre quem está de fora tem o conhecimento necessário para
decidir. Cabe a nós subsidiar políticos, juízes, promotores, e quem mais tenha
o poder de decisão, com informações para avaliações justas. O que nos leva a um
ponto importante.
É verdade que a contribuição sindical não é mais
obrigatória, mas isso não significa que ela seja desnecessária. No caso da Lei
da Integração, fomos nós que demonstramos como é imprescindível trazer um ponto
de equilíbrio nas negociações entre integrados e integradores. Na reforma trabalhista,
deixamos claro que a realidade do campo é diferente da cidade. E no Código
Florestal trabalhamos para chegar ao melhor consenso que se conseguiu entre
produção e preservação, apenas para citar alguns exemplos.
Lá fora, na maioria dos países com vocação agrícola, a
contribuição não é obrigatória. Ainda assim, os sindicatos são muito mais
clamorosos do que aqui. É claro: temos que separar o joio do trigo e deixar
claro que estamos falando das entidades sérias e idôneas.
O agronegócio não vive solitário numa ilha de prosperidade,
é evidente que somos afetados pelos problemas que ocorrem não somente no Brasil
como no mundo. Mas estamos em um momento único da nossa história.
Mostramos a todos nossa existência e nosso papel crucial de
alimentar o mundo e gerar riquezas mesmo em momentos de crise. Agora,
precisamos usar isso a nosso favor.
Temos que ser estratégicos, o que vai acontecer com uma
organização ainda mais efetiva. Só assim vamos nos fortalecer ainda mais e
perpetuar essa visão de que somos grandes e temos grandes responsabilidades.
Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR