Debates
Manter as escolas abertas é uma questão científica
Da Redação | 10 de abril de 2021 - 01:12
Por Celso Hartmann
A pandemia de Covid-19 mostrou-se um grande desafio para a
sociedade brasileira no primeiro trimestre de 2021. Após um final de 2020 em
que a esperança foi renovada, com a curva de contágio e de mortes descendente,
a economia em recuperação, as escolas reabertas (mesmo que com restrições), e o
anúncio da chegada das primeiras vacinas viáveis contra o coronavírus, chegamos
ao início do segundo trimestre de 2021 em meio ao crescente número de contágios
e mortes no Brasil, escolas fechadas e economia instável.
O momento é de reflexão, de absoluto respeito pela dor das
famílias atingidas pela pandemia, mas também é de ação e de preparação para a
retomada. A 24ª pesquisa anual global de CEO’s da PwC (disponível em https://www.pwc.com.br/ceosurvey)
mostra que 85% dos presidentes de empresas brasileiras acreditam que a economia
global terá um desempenho melhor em 2021, além de indicarem uma retomada
moderada na contratação de funcionários.
Para que esse otimismo em relação ao futuro próximo se torne
realidade, precisamos tratar do presente com austeridade e responsabilidade,
tendo como premissa básica e inegociável a plena observância dos preceitos
científicos. Em caso de necessidade de lockdown, as escolas, espaços
seguros para as crianças, precisam ser as últimas instituições a fechar e as
primeiras a reabrir, para aqueles que precisam produzir tenham tranquilidade
para trabalhar, sabendo que seus filhos estarão bem cuidados, aprendendo,
evoluindo e convivendo.
A ciência afirma que crianças raramente desenvolvem formas
graves da Covid-19 e que a transmitem menos que os adultos (um bom resumo
atualizado pode ser acessado em https://glo.bo/3sMFG7u). Além disso, as escolas, quando
devidamente ajustadas para funcionar seguindo um protocolo sanitário rígido,
não são focos de transmissão da doença - pelo contrário, atuam como locais onde
as crianças aprendem efetivamente a seguir boas práticas em relação aos cuidados
com sua saúde, sendo orientadas a seguir o distanciamento social, a utilizar o
álcool em gel, a lavarem as mãos com frequência, a usarem corretamente a
máscara, a trocarem esta última com a correta frequência, enfim, agem como uma
escola sempre serviu para a sociedade: como lugar de referência, de
disseminação de conhecimento, de informação de qualidade para a população e de
aprendizado.
O preço que a sociedade pagará por erroneamente escolher
deixar espaços como bares e comércio abertos e as escolas fechadas pode ser
alto demais não somente por causa dos transtornos causados aos pais que
precisam trabalhar ou por possíveis falhas na adaptação do estudante ao ensino
remoto. Novas pesquisas apontam que o isolamento social pode ser um fator
importante para o aparecimento de transtornos psiquiátricos, e a escola é o
principal espaço de socialização das nossas crianças.
Dentro das instituições de ensino, é preciso valorizar o
trabalho da equipe docente. Os protocolos sanitários devem proteger os
professores e gestores educacionais, prezando pelas suas vidas, orientando e
esclarecendo sobre como se cuidar durante a pandemia. E os equipamentos
de proteção individual devem estar disponíveis para todos. Dentro de uma
instituição de referência que é a escola, o professor é o maior ícone, que
precisa ser protegido e deve estar contemplado, pelo governo, no grupo
prioritário para a vacinação contra a Covid-19.
Escolas fechadas, enfim, devem ser exceção. Uma breve pausa
necessária, em caso de agravamento da crise, quando o sistema de saúde estiver
sobrecarregado e a cidade efetivamente precisar parar. Fora isso, não há
sentido em permitirmos escolas fechadas e demais serviços abertos, população
trabalhando e as crianças em casa.
Unidos pela ciência e despidos de meras suposições, em breve estaremos, nós e nossos filhos, com o apoio desta augusta instituição chamada escola e devidamente vacinados, preparados para os desafios que o futuro nos apresentará.
*Celso Hartmann é diretor executivo dos colégios do Grupo
Positivo.