Debates
Desafios para a Retomada Econômica
Da Redação | 18 de setembro de 2021 - 02:45
Por Lucas Dezordi
A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre
mostrou uma leve retração da atividade produtiva de 0,1% em relação ao
trimestre imediatamente anterior. Esse valor negativo não era esperado pelo
mercado e, de certa forma, tornou os analistas mais céticos em relação a novas
previsões. Concomitantemente, levantou uma questão central sobre a velocidade
de recuperação, assim como sua capacidade de manutenção ao longo do tempo. Este
breve artigo, portanto, pretende analisar os dados mais recentes de nossa
atividade e os desafios para uma retomada mais sustentável de nossa economia.
A demanda externa puxou para cima a economia no segundo
trimestre. As exportações de bens e serviços cresceram 9,4% em relação ao
período imediatamente anterior e 14,1% comparado com o mesmo trimestre do ano
anterior. Esse crescimento é explicado pela forte demanda internacional de
produtos agrícolas, máquinas e equipamentos, indústria automotiva e minerais
não metálicos. A taxa de câmbio depreciada aliada à valorização dos produtos
comercializáveis (tradables) impulsionaram o comércio internacional,
contribuindo para um saldo na balança comercial positivo no valor de US$ 37,496
bilhões. O saldo é 68,2% maior que nos primeiros meses de 2020, sendo o melhor
primeiro semestre da história.
Os sinais recentes indicam que o ritmo de crescimento das
principais economias desenvolvidas e a chinesa tende a reduzir, impactando os
preços internacionais. Associados a esse fator, os estímulos monetários dos
principais bancos centrais devem continuar. Com efeito, teremos um ambiente
macroeconômico internacional propício para alocação de capital nas economias
emergentes, com uma tendência de depreciação do dólar frente às moedas desses
países. Resumindo, com preços de commodities mais estáveis e dólar
mais fraco vai ser ampliado o espaço para a retomada da demanda doméstica,
principalmente nos países que avançaram na imunização de sua população.
É nesse ambiente internacional que a economia brasileira se
encontra. Contudo, destaco três desafios centrais para um maior benefício
econômico. Primeiro, devemos avançar na estabilidade político-institucional. No
imbróglio do projeto orçamentário para o próximo ano, a proposta da PEC de
parcelamento dos gastos com precatórios não foi bem aceita pelo mercado. Gerou
insegurança jurídica, incertezas e preocupações com a criação de um fundo que
poderia aumentar suas despesas acima do limite determinado pelo teto dos
gastos. Um caminho alternativo proposto pelo ministro Fux seria a revisão dos
valores. Nesta situação, o CNJ permitirá ao governo uma despesa de R$ 39,9
bilhões em dívidas judiciais ao longo de 2022. O restante – R$ 49,1 bilhões –
teria pagamento previsto apenas para 2023.
O segundo desafio é o enfrentamento da atual crise hídrica.
Estimo que os efeitos mais agudos do La Niña poderão gerar um racionamento
compulsório o qual reduzirá o consumo em 10%. Nesse caso, o impacto negativo na
atividade econômica poderá ser de uma perda de 1,25 pontos percentuais do PIB.
Com isso, o governo deve avançar em um plano de redução imediata no consumo de
energia, reduzindo desperdícios e evitando um racionamento forçado.
O terceiro fator está relacionado ao controle da inflação.
Com instabilidade institucional entre os Poderes e a crise hídrica pressionando
preços administrados, uma retomada mais rápida da atividade econômica doméstica
poderá gerar maior pressão sobre a inflação de serviços, contaminando as
expectativas de médio prazo. Com isso, a retomada de nossa economia deverá
ocorrer em um ritmo mais moderado e focado em controlar os três principais
riscos à instabilidade socioeconômica.
*Lucas Lautert Dezordi, é doutor em Economia, sócio da
Valuup Consultoria, economista-chefe da TM3 Capital e professor da Universidade
Positivo.