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Moradora de Tibagi comemora aniversário de 121 anos
Amantina dos Santos Duvirgem vivenciou todas as transformações sociais e culturais ocorridas no país de 1900 até hoje
Da Redação | 28 de julho de 2021 - 04:00
Amantina dos Santos Duvirgem vivenciou todas as transformações sociais e culturais ocorridas no país de 1900 até hoje
Cara leitora, caro leitor. Pense em alguém que atravessou o
século 20 inteirinho, do início ao fim, e que está vivinha da silva, esbanjando
vitalidade, em pleno início da terceira década do século 21. E isso não é
somente uma força de expressão.
Que, de 1900 até hoje, passou por 35 presidentes da
República (de Campos Sales, que governou o Brasil entre 15 de novembro de 1898
e 15 de novembro de 1902, ao atual, Jair Messias Bolsonaro, no exercício do
cargo desde 1º de janeiro de 2019); por 43 governadores do Paraná
(de Santos Andrade, gestão que durou de 10 de maio de 1899 a 25 de
fevereiro de 1900, ao atual, Carlos Massa Ratinho Júnior, no cargo desde 1º de
janeiro de 2019); e por 52 prefeitos de Tibagi (do coronel Telêmaco Augusto
Enéas Morosini Borba, que administrou a cidade de 6 de novembro de 1897 a 6 de
novembro de 1900, ao atual, Artur Ricardo Nolte, o Butina, no cargo desde 1º de
janeiro deste ano).
Alguém que, quando nasceu, Tibagi tinha sido elevada à
categoria de cidade havia menos de três anos (em 27 de dezembro de 1897,
através da Lei Estadual 259). Sete anos antes do seu nascimento, em 1893, por
exemplo, tinha iniciado, no país, a Revolução Federalista (que terminou em
1895).
Pense em alguém que está neste mundo desde a “Exposição
Universal de 1900”, realizada em Paris (inaugurada em 14 de abril daquele ano e
com duração de sete meses), que apresentou as então novas conquistas
tecnológicas do progresso e uma evocação das “recentes evoluções técnicas e
culturais”. Alguém que passou pelas duas Grandes Guerras Mundiais – a Primeira,
de 1914 a 1918, e a Segunda, de 1939 a 1945.
Alguém que passou por sete denominações e dez mudanças de
moeda, no Brasil: Mil Réis, Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo,
Cruzeiro Real e Real. Que vivenciou, mesmo que muitas vezes a distância, todas
as transformações sociais, culturais, econômicas e políticas ocorridas no país
desde 1900 até a atualidade. Que viveu tempo suficiente para ser contemporânea
das principais mudanças das novas tecnologias, principalmente de comunicação –
desde uma então jovem Fotografia, nascida oficialmente pelas mãos do francês
Joseph Niépce, no verão de 1826; passando por um ainda “bebê” chamado
Cinema, então com cinco anos de idade (nascido em 28 de dezembro de 1895); que
vivenciou o advento do Rádio, em 7 de setembro de 1922, e da Televisão,
em 18 de setembro em 1950, no Brasil; e que está em plena era digital
e das inevitáveis e imprescindíveis redes sociais.
Essa pessoa ainda vive entre nós – e vai muito bem,
obrigada. Trata-se de Amantina dos Santos Duvirgem, ou simplesmente Dona
Júlia, moradora da localidade de Serra Gaias, no distrito de Caetano Mendes (a
35 km da sede do município), que completou 121 anos no dia 22 de junho deste
ano.
Não, você não leu errado. São 121 anos, mesmo. Uma idade
extraordinária sob qualquer ponto de vista e que credencia Dona Júlia,
seguramente, como uma das pessoas mais velhas do mundo – senão, possivelmente,
a mais velha deste planeta (leia texto abaixo).
“Olha, é um fato bem relevante, porque chegar a cem anos é
uma vida muito longa, e aos 121, que nem a Dona Júlia, tem mais é que dar os
parabéns, desejar muito sucesso e que ela tenha um bom tempo, ainda”, comemora
o prefeito Artur Butina. “Porque, indiferente de questão, ela tem uma saúde
muito boa. Então, que Deus continue olhando por ela, protegendo, e que ela
possa vivenciar mais alguns anos a nossa terra, Tibagi”, completa.
Conforme relata a assistente social Helen Cristina Pereira,
que trabalha no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Dona Júlia,
que mede cerca de 1,5 m, mora em uma casa “que foi toda adaptada para ela”, em
Serra Gaias, e recebe os cuidados de Maria Edenir Lúcio, que a acompanha
há pelo menos 20 anos.
“A Dona Júlia não fala, mas entende tudo o que é falado pra
ela”, diz Helen. Sua alimentação preferida é bolo de polvilho “de Tibagi” e ovo
cozido. “Ela não tem diabetes, dor de cabeça e nem pressão alta. Não toma
remédio e não tem cabelo branco. E adora usar brincos e pulseiras”, continua
Helen. Atualmente, Dona Júlia é beneficiária do BPC (Benefício de Prestação
Continuada) e acompanhada “de perto” pela Secretaria Municipal da Criança e
Assistência Social.
Documentos
Conforme reportagem publicada em 22 de junho de 2015, no
site g1.globo.com, intitulada “Ex-andarilha, idosa de 115 anos é adotada por
família do interior do PR”, Dona Júlia vivia sozinha, mas acabou conquistando
“um novo lar” após ter sido adotada “por uma família do vilarejo de Serra Gaias
quando fez 100 anos, em 2000”. “Sempre sorridente, hoje a mulher com 115 anos
esbanja saúde”, informava a matéria.
Nesse período, segundo a reportagem, Dona Júlia “ganhou os
primeiros documentos”. “Ela não fala e se comunica apenas por gestos. A família
que a acolheu teve, então, dificuldades para compreender o ano e a cidade em
que ela tinha nascido. 'Ela vivia pra lá e pra cá, morava numa casinha ali,
sofria, sabe?', relembra a filha adotiva de Dona Júlia, Maria Ednir de
Almeida [sic], que resolveu levá-la para casa”, dizia a matéria. Helen conta
que, como Dona Júlia não tinha documentos, uma das maneiras de se constatar a
sua idade foi através do testemunho de três pessoas mais idosas.
Reportagem da Rede Massa postada no Facebook, em 16 de junho
de 2017 (disponível AQUI),
mostra que Dona Júlia fez questão de comparecer ela mesma ao Fórum Eleitoral
Edmundo Mercer Júnior, em Tibagi, para fazer o Título de Eleitor, acompanhada
de Maria Edenir. Na reportagem, Dona Júlia aparece sorridente, mostrando esse
documento junto com a sua Carteira de Identidade.
Festas
Segundo Helen, desde 2015, Dona Júlia ganha festas de
aniversário com temáticas diferentes, que são promovidas pela Secretaria
Municipal da Criança e Assistência Social e pelo Serviço de Convivência de
Fortalecimento de Vínculos (SCFV), localizado na vila São José, “que oferta
serviços nos dois distritos de Tibagi, como o grupo de idosos Renascer, de
Caetano Mendes”. Em 2017, por exemplo, aconteceu o “Arraiá da Júlia”, com
direito a violão e sanfona. “Agentes comunitárias de saúde [ACSs] fizeram os
enfeites”, relata Helen.
Em 2021, a festa em comemoração aos 121 anos aconteceu em 22
de junho, na própria casa de Dona Júlia. Conforme explica a atual secretária
municipal da Criança e Assistência Social, Tatiane de Fátima da Silva Oliveira,
foi uma iniciativa da primeira-dama Kelly Oliveira, de assistentes sociais e do
Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar). “Neste ano, devido à pandemia,
foi só levado um bolo para a Dona Júlia e um presente, confeccionado pelas
costureiras do Provopar”, conta Tatiane, que foi à casa de Dona Júlia
acompanhada de Helen Cristina Pereira e de Jessica Perez dos Santos,
funcionária terceirizada que realizou os serviços de fotografia e edição de
vídeo. “Mesmo com a pandemia, a festa dela não passou em branco”, reforça
Helen. “No Carnaval de 2020, por exemplo, ela participou da matinê para
idosos”, conta.
*Com informações dos sites pt.wikipedia.org, g1.globo.com e
correiodoscampos.com.br
Mesmo sendo a pessoa mais velha do mundo,
nome de Dona Julia não aparece em listas oficiais
Mesmo com a idade de 121 anos comprovada por documentação e
testemunho de pessoas que conviveram com Amantina dos Santos Duvirgem, a Dona
Júlia, o seu nome não aparece em listas de rankings oficiais, como
o Guinness World Records e o Gerontology Research Group (GRG).
Segundo informa o site wikipedia.org, quem encabeça a lista das cem pessoas
mais velhas do mundo é a francesa Jeanne Calment, que chegou à idade de 122
anos e 164 dias. Ela nasceu em 21 de fevereiro de 1875 e morreu em 4 de agosto
de 1997.
Nessa lista, sete pessoas ainda estão vivas – todas
mulheres. Duas são brasileiras. O primeiro nome que aparece é o da japonesa
Kane Tanaka. Ela naceu em 2 de janeiro de 1903 e contava, até esta terça-feira
(27), com 118 anos e 206 dias. Da lista das cem pessoas, Kane aparece em
terceiro lugar. Mais nova, portanto, que Dona Júlia, que, com base nessa lista,
pode, sim, ser considerada a pessoa viva mais velha do mundo.
Na sequência, aparecem Lucile Randon, francesa (nascida em
11 de fevereiro de 1904, em sétimo lugar na lista de cem); Francisca Celsa
dos Santos, brasileira (21 de outubro de 1904, 13º); Antônia da Santa Cruz,
brasileira (13 de julho de 1905, 22º); Tekla Juniewicz, ucraniana-polonesa (10
de junho de 1906, 50º); Thelma Sutcliffe, estadunidense (1º de outubro de 1906,
60º); e Valentine Ligny, francesa (22 de outubro de 1906, 64º).
Todas as pessoas constantes dessa lista “tiveram a sua
longevidade reconhecida pelo Guinness World Records ou pelo Gerontology
Research Group (GRG)” – (disponível AQUI).
BPC é previsto na Lei Orgânica da Assistência Social
O BPC (Benefício de Prestação Continuada) é previsto na Lei
Orgânica da Assistência Social (Loas). Segundo informa o site www.gov.br/cidadania,
o BPC é “a garantia de um salário mínimo por mês ao idoso com idade igual ou
superior a 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade”.
No caso da pessoa com deficiência, tal condição “tem de ser
capaz de lhe causar impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial de longo prazo (com efeitos por pelo menos dois anos), que a
impossibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade, em igualdade
de condições com as demais pessoas”.