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Imagem ilustrativa da imagem Desfaçatez

Por Mário Sérgio de Melo

Numa mesma página do jornal da cidade, vi duas notícias: uma dizia que Ponta Grossa iria sediar manifestação nacional pelo retorno às aulas presenciais, suspensas desde o início da pandemia; outra dizia que a cidade ultrapassou a capital Curitiba em número de casos ativos, e alcançou números diários recordes de contágio e mortes pela Covid-19. Infelizmente, a notícia não diz quem são os promotores da manifestação pelo retorno às aulas presenciais.

Fugimos do agravo da pandemia. Fomos em família passar uns dias deste janeiro na praiana Peruíbe, no sul de São Paulo, frequentada por uma população heterogênea, desde barões com grandes mansões até remediados que se hospedam dois ou três dias nas pousadas do lugar. A cidade concentra forte atividade pesqueira, tem um portinho e um mercado de frutos do mar que atrai gente de muitas cidades próximas, até outras litorâneas maiores. Uma noite, uma forte tempestade ocasionou ressaca e grandes ondas. Fomos caminhar na praia na manhã seguinte, deprimi-me: a areia estava coberta de resíduos, em parte, naturais, restos de plantas, peixes, pássaros, conchas, mas em meio a eles uma enormidade de lixo. Plástico de todo tipo, isopor em grandes ou pequenos fragmentos, cacos e garrafas de vidro, cordas, latas e embalagens metalizadas, pedaços de tijolos, de concreto, de madeira... O mar parecia, durante aquela noite, ter-nos devolvido parte daquilo que despejamos nele.

Na estrada, voltando para casa, motoristas apressados não respeitavam a distância de segurança que deixo até o veículo da frente, quando sigo pela esquerda preparando-me para ultrapassar outro mais lento. Os desembestados ultrapassam pela direita, enfiam-se, perigosamente, entre meu carro e o da frente. Manobra insegura, coloca todos em risco, inclusive os apressados.

Chego em casa, vou ver o grupo de WhatsApp dos praticantes de exercícios. Mensagem de uma religiosa devota, era uma foto de uma mulher no hospital gravemente queimada, acompanhada de um áudio dizendo ser acidente resultado do uso do celular e abertura do micro-ondas. Inverossímil. Menos de três minutos de pesquisa mostraram tratar-se de mentira digital. A senhorinha que enche o grupo de WhatsApp com mensagens religiosas beatas espalha também mentiras.

Vou ao supermercado, surpreendo-me como, mesmo com poucos clientes, possa ficar tão intrafegável. É que os consumidores, mesmo senhoras e senhores encanecidos, parecem considerar-se os únicos presentes nos corredores: estacionam seus carrinhos obstruindo a passagem ou deslocam-se perigosamente. Serão eles os motoristas dos veículos desembestados das estradas?

Coisas do dia a dia, revelam como andamos descuidados, desrespeitosos, egocêntricos, agressivos. Talvez a palavra “desfaçatez” traduza bem o comportamento que prevalece nos dias atuais. Desfaçatez é sinônimo de insolência, pouco caso. E o contrário de dignidade, moderação, respeito.

Se temos nos conduzido com tanta desfaçatez, o que esperar dos governantes, das autoridades que elegemos? O que esperar do país?

Mário Sérgio de Melo é Geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

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