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Teologia e corrupção

A onda de denuncismo e protestos contra a corrupção de grande porte oculta a essência do coração humano. Somos hipócritas com hombridade, dissimulados, sepulturas caiadas, diria o Mestre de Nazaré, especializados em coar mosquitos e engolir camelos. Os partidos nos serviram de escola. Fingimos odiar a corrupção porque no grosso volume dela não participamos, em pequenas doses, nos permitimos praticá-la no cotidiano. Ladrão que rouba ladrão merece cem anos de perdão ou não tem comparação o que, justificadamente, nos corrompemos com as coisas feitas em Brasília.

Na teologia cristã, há o conceito de depravação total do homem, tese essa esposada por Agostinho, Calvino e os atuais reformados. Fundamenta-se numa afirmação do apóstolo Paulo de Tarso de que na raça humana não há um justo sequer, todos se extraviaram, todos nascem tendencialmente para o mal e a safadeza. Se a Epístola aos Romanos for mesmo de inspiração divina, a tentativa de imputar improbidade a este partido e não aos demais labora em erro. Em Ponta Grossa políticos diplomados como honestos já colocaram esposas como funcionárias de gabinete ou declararam possuir menos que dez reais de patrimônio.

A corrupção é fenômeno histórico. Antes do coletivo é gestada nas entranhas humanas, instigada pela ganância que o mundo externo provoca. Está em todos, em graus diferentes, controlada ou liberada. Aplaudida na mídia, púlpitos, parlatórios, gestos, entidades públicas e privadas, consultórios médicos, escolas e universidades, não apenas na Petrobrás, nas atitudes de supostas misericórdias. Mortais anestesiados pelo cotidiano doloroso não enxergará o quanta podridão por trás de eleições para presidência, governadores, deputados, senadores, vereadores, reitorias e secretarias. Uma fila em que todos pousam de vestes brancas, discípulos fiéis do Cordeiro, rezam, beijam a mão das autoridades eclesiásticas, cantam hinos e concedem entrevistas. Sendo longa não permite que se veja as portas do Inferno os esperando e o Arcanjo Miguel, de fala baixa e mansa os chamando a o encontro com Lúcifer.

A corrupção é a marca gritante da maioria das paupérrimas composições musicais, ensinadas às nossas famílias pela televisão não brasileira. Estes espertalhões faturam fortunas indecorosas às custas da histeria de meninas ingênuas e homens analfabetos funcionais. A riqueza patrimonial deles é correspondente em grau a pobreza intelectual dos seus fãs e da miséria material em que se encontra parcela da sociedade brasileira. O futebol não fica por menos, havendo até partidos políticos que se consagraram como torcidas organizadas desse campo frutífero do capitalismo moderno, o que corresponde à ideologia da política moderna, até a dita socialista, permissividade sexual e esporte empresarial como o ópio do povo.

A corrupção circula nas veias doentias do sistema religioso e naquilo que, equivocadamente, denominamos de universidade, no Brasil. Ambos responsáveis pelo desperdício do dinheiro do povo, ambos com armas psicológicas de poderoso efeito, falando em nome de Deus ou em nome da Ciência. Por isso uma defende com unhas e dentes a não interferência do Estado em matéria religiosa, até deseja que este seja cristão e a outra com invencionices variadas e complexas que convencionou chamar de projeto de pesquisa. A corrupção continua enchendo os bolsos de poucos e jogando no lamaçal da miséria os muitos, estes últimos que também carregam partículas dela e anseiam por ingressar no majestático mundo dos prazeres.

Acir Camargo da Cruz - [email protected]
*Autor é ponta-grossense e leitor do Jornal da Manhã

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